No Brasil, especialmente em determinadas épocas do ano, não é difícil o tempo “virar” e de repente: chuva! Se não há como desmarcar ou fugir de uma caminhada em um dia de chuva, a melhor coisa a fazer é se proteger e saber exatamente o que levar. Não estrague o seu dia na montanha, torne-o divertido. E você terá boas histórias para contar.
Um dos pontos mais importantes é ter uma boa roupa de chuva em mãos. Hoje os produtos mais especializados para o montanhismo são feitos em tecidos especiais, resistentes à água, que deixam o corpo respirar, e com uma diversidade grande de modelos. Capas, ponchos, anoraks, jaquetas, parkhas, calças e botas impermeáveis, a variedade é enorme.
Mas qual a melhor opção? Há vantagens e desvantagens em todos os modelos. Jaquetas com zíper frontal de abertura total são mais fáceis de vestir e tirar do que anoraks, que possuem apenas a entrada para a cabeça (como uma camiseta) ou um zíper frontal de abertura parcial. Por outro lado, a existência de muitos zíperes aumenta a chance de vazamento (ou seja, de que a água da chuva penetre).
As parcas cobrem os quadris e protegem melhor o corpo todo, mas jaquetas curtas geralmente são mais versáteis e menos volumosas, fornecendo a mesma proteção quando combinada com calças. Ponchos são mais baratos, à prova d’água, e permitem uma grande ventilação.
As calças com zíperes laterais nas pernas são mais fáceis de vestir, permite trocas rápidas no meio da trilha e podem ser colocadas por cima de qualquer roupa – até do calçado – sendo ajustadas com o fechamento dos zíperes. No entanto são mais caras. Calças com elástico são mais baratas e fornecem mais proteção em tempos de chuva contínua, mas ao mesmo tempo são menos práticas.
Um capuz integral (costurado à roupa) oferece mais resistência contra a chuva, mas um capuz que pode ser destacado por zíper é mais prático. Geralmente, tanto os capuzes integrais quanto os destacáveis podem ser enrolados ou dobrados e guardados na parte de trás da gola. Uma roupa com capuz significa mais proteção em climas ruins. Dê preferência para capuzes que possuam cordim, permitindo seu ajuste ao rosto, aumentando o conforto e a visibilidade.
Um revestimento interno de lã ou tecido sintético na parte interna da gola protege seu rosto da abrasão com o zíper e do frio. É um assessório importante em tempos mais frios ou mais chuvosos, quando se usará a blusa por mais tempo, completamente fechada.
Um design mais técnico também pode ajudar. Os zíperes, bolsos, botões e outras aberturas, por exemplo, devem possuir uma “tampa”, ou seja, devem ser cobertos pelo tecido, para evitar vazamentos e proteger melhor o usuário. O reforço do tecido em locais como joelhos, cotovelos e ombros previne corrosão e rasgos nestes locais de maior atrito.
Tecidos impermeáveis
As roupas que protegem da chuva podem ser feitas em três tipos de tecidos: à prova d’água respirável; resistente à água respirável; e à prova d’água não respirável. Os tecidos respiráveis são um progresso em relação ao tradicional estilo de capas em náilon, que mantém a chuva fora, mas fecha o suor dentro. Para solucionar este problema foram desenvolvidos tecidos com coberturas (resinagens) com microporos que permitem a saída do suor, e ao mesmo tempo são resistentes ou totalmente à prova d’água.
À prova d’água / respirável: são tecidos que possuem um tratamento que impede que a água penetre na roupa, ao mesmo tempo em que permitem que o suor se dissipe. Esses tecidos não são 100% à prova d’água ou perfeitamente respiráveis, mas são os mais apropriados para a maioria das atividades e condições climáticas. Existem dois tipos de tecido à prova d’água/ respirável: os laminados (uma membrana é laminada à uma base de nylon ou poliéster) e os revestidos (possuem um acabamento na parte externa que evita que a água seja absorvida pelo tecido).
Resistente à água/ respirável: são tecidos que não possuem um tratamento à prova de água, mas por serem extremamente fortes (como nylon ripstop), protegem do vento e de chuvas fracas, ao mesmo tempo em que permitem que o corpo respire (não retêm o suor). São indicados para quem vai praticar atividades de alto nível (corrida, ciclismo, esqui), pois permitem uma maior ventilação. Pelo mesmo motivo, também são mais apropriados para climas mais quentes. As roupas feitas com esse tipo de tecido são mais leves, menos volumosas e mais baratas. No entanto, não são adequadas para proteger em condições climáticas mais intensas, nem durante longos períodos de chuva
À prova d’água/ não respirável: são tecidos fortes e duráveis, como nylon revestido com poliuretano ou PVC, que fornece uma ótima proteção contra chuvas mais fortes, não permitindo que a água penetre na roupa, mas no entanto possuem pouca ventilação e retêm o suor do corpo. Portanto, são indicados para atividades leves praticadas em tempos pesados (fortes chuvas ou grandes ventanias). São os mais baratos dos três.
O Abrigo Anorak Storm da Trilhas & Rumos, por exemplo, é feito em tecido respirável, possui uma impermeabilização que tem resistência de até 10.000 mm de coluna d’água e respirabilidade superior a 3.000mm em coluna d’água, por metro quadrado, em 24h. Suas costuras seladas costuras seladas evitam que a água penetre pelos furos da costura.
Seu design facilita a ventilação e a saída do suor.
Seu design facilita a ventilação e a saída do suor.
Outro abrigo da Trilhas & Rumos que usa a mesma tecnologia é a Parkha Andes. Ideal para ser usado em climas mais frios, seu tecido tem grande resistência à umidade (3.000 mm) e respirabilidade (3.000 mm/ 24 horas), o que possibilita a saída da umidade gerada pelo corpo, evitando que se condense internamente e prejudique o conforto térmico. É o mais técnico desta linha.
A Trilhas & Rumos oferece também um modelo de calça anorak: a Climatic, feita com o tecido Dry Tech, assim como as Parkhas, aguenta pelo menos 1.200 mm de coluna d’água e possui costuras seladas.
Mas não pense que os tecidos impermeáveis transpirantes são perfeitos. Como quaisquer outros materiais, devem ser usados em situações apropriadas. Nos países de clima muito chuvoso e com alta umidade relativa do ar, como o Brasil, nem sempre estar com um vestuário como este é uma vantagem.
Se um anorak com estas propriedades fica exposto a muita chuva ou alta umidade, terá dificuldade de deixar a transpiração sair porque as gotas de água que se acumularão do lado de fora da trama impedirão a saída do vapor. Assim, a parte interna ficará úmida e a pessoa perderá calor.
Esta tecnologia também vale para botas de caminhada. Marcas como Gore-Tex (o primeiro tecido impermeável transpirante do mercado, que representou uma grande inovação) e SympaTex são encontradas nas etiquetas de calçados especializados. Uma bota impermeável faz toda a diferença em um dia de caminhada com chuva.
Outras dicas importantes para dias de caminhada na chuva
- Guarde tudo dentro de sacos plásticos separados e sem furos. Como os sacos estanques custam mais caros que os de plástico, você poderá utilizar as duas opções: roupas e coisas que podem, eventualmente, molhar, dentro dos sacos plásticos; coisas que não podem pegar uma gota d’água, como máquina fotográfica e outros aparelhos eletrônicos ou documentos e mapas, em sacos estanques.
- Por cima da mochila, use uma capa de náilon, como a Capa Caramujo, da Trilhas & Rumos, ou a que vem embutida em várias mochilas de nossa linha.
- Organize a sua mochila já pensando em um dia de chuva. Pense no que você vai pegar primeiro.
- Não deixe seu corpo esfriar, nem esquentar demais durante a caminhada. Vá regulando a quantidade de camadas de roupa por baixo do anorak de forma a não ficar molhado por dentro.
- Se alimente muito bem, com mais freqüência e melhor que em dias de céu azul porque você gastará mais calorias. A água é excelente condutora de calor e levará toda a sua energia embora em pouco tempo. Pare para comer e beber sempre que o tempo der uma estiada.
- Deixe sempre os lanches à mão, assim como a água, para que você não tenha de tirar a mochila toda hora que queira beber um gole ou comer alguma coisa. Em dias de chuva, este tira-e-põe da mochila é ainda pior pois ao tirarmos a mochila das costas ela poderá molhar justamente onde está em contato com o nosso corpo, nos deixando ainda mais úmidos e frios.
- Proteja a cabeça, use gorros impermeáveis também.
- Mantenha seus pés secos. Use botas tratadas com impermeabilizantes e, por cima delas, polainas de náilon, que irá fazer com que boa parte da água escorra da sua perna diretamente para o chão ou para a parte impermeabilizada de suas botas – e não direto para o interior das mesmas!
- Não tire logo a roupa de chuva assim que parar de chover. Lembre-se que a vegetação continua molhada e poderá te encharcar.
- Se você está fazendo uma caminhada de vários dias e há muito não vê o sol, deixe tudo arejando tão logo ele saia… Seque suas roupas, coloque o saco de dormir em cima da barraca (cuidado com o vento apenas!), tire as meias, abra bem as botas, deixe tudo ficar bem arejado e seco.
- Tente manter seu pé seco, pois a pele úmida tende a ser mais suscetível a bolhas. Se não der, caminhe com meias molhadas mesmo e dê prioridade à sua meia seca para passar a noite pois, parado, deve sentir mais frio.
- Cuidado com tempestades elétricas, muito comuns no verão brasileiro.
- E por fim, reconheça a hora de voltar. Não é porque você já está na montanha que vale fazer qualquer coisa, sem limite. Lembre-se: a montanha não vai sair do lugar, ela continuará lá!
Por Márcia Soares, outubro de 2010.
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