Desde que surgiu, em 1952, o Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio passou por sucessivas transformações. As máquinas de escrever deram lugar a computadores de última geração, o quadro negro foi substituído por equipamentos multimídia, o número de alunos se multiplicou, o curso se ampliou com a publicidade e o cinema e o estudo na biblioteca foi suplantado pela busca na internet na palma da mão. Questões como o fim do jornal impresso vêm à tona, e a única certeza é a imprevisibilidade quanto ao futuro da comunicação – ao futuro próximo, ainda mais quanto ao futuro distante. Ao abrir a semana de comemorações pelos 60 anos do Departamento, em 18 de outubro, o jornalistaBruno Thys, aluno da turma de 1976 e atual diretor geral do Sistema Globo de Rádio, lembrou que na tradição judaica há o costume de se desejar que o aniversariante viva por 120 anos. OPortal propôs a profissionais do mercado um exercício de abstração, futurologia e criatividade, imaginando como será a Comunicação Social daqui a 60 anos.
Jornalista especializada em tecnologia, Elis Monteiro fez um curso executivo da Singularity University (SU), a universidade criada pelo Google e pela Nasa, que abriu sua cabeça para as novas possibilidades de ensino no futuro. Ela acredita que em 60 anos as novas formas de comunicação terão transformado a sociedade e a forma como as pessoas se relacionam.
– A SU é, em 2012, um exemplo do que será a universidade do futuro: menos contemplação e mais compartilhamento de informações, trabalho colaborativo e intelectual. Isso somado à convergência de disciplinas, que hoje sequer estariam contempladas na mesma grade curricular. Neurociência convivendo com robótica e redes sociais; nanotecnologia impactando o meio ambiente, tudo usando a tecnologia exponencial como elo e base de sustentação – conta Elis.
Para o ano de 2072, também prevê mudanças radicais, dignas de filme de ficção científica, e concorda com Thys quanto à onipresença dos professores:
– O cérebro será mais e melhor explorado. Nós nos comunicaremos telepaticamente, a internet será transparente e passará por todos nós como o ar, sem que precisemos pensar nela; não haverá mais telefone nem sala de aula; os professores estarão conosco on demand – quando deles precisarmos e quando os solicitarmos – seja no espelho do banheiro, dentro do carro, do avião, em qualquer dispositivo, até mesmo na palma da mão. Os alunos não precisarão anotar nada; terminada a aula, na verdade uma grande conversa, com intervenção constante de ambas as partes, os estudantes poderão fazer download de pedaços de documentos gerados no cérebro dos mestres. Tudo em nosso cérebro será passível de download e upload, e usaremos aplicativos especiais para ouvir música, ler, assistir a filmes.
Elis acredita que a questão ambiental e dos meios de transporte também vão influenciar no desenvolvimento de novas tecnologias:
– Com cidades cada vez mais populosas, nos próximos anos os governos passarão a entender que, quanto menos veículos e pessoas transitando pelas ruas, melhor. A tecnologia chegará como aliada neste momento, fornecendo formatos de comunicação impensáveis até agora – da teleconferência, passaremos ao holograma. A universidade de 2072 será opção para os estudantes, mas, já que os professores serão altamente especializados e haverá novas formas de transmissão de conhecimento, os alunos recorrerão às eternas fontes de sabedoria.
A psicóloga Daniela Romão, professora da PUC e especialista em novas tecnologias da informação, também arrisca previsões, porém sem descartar que poderão ser motivo de piada no futuro:
– Penso que os cursos de comunicação terão versão presencial e online. Chamadas realizadas por professores não serão mais necessárias. Se houver checagem de presença, será através do acesso ao sistema (para as aulas à distância) e por identificação biométrica (para aulas presenciais). O próprio acesso à universidade será identificado na entrada, não sendo possível a circulação anônima. As aulas terão aparelhos de tradução simultânea para os intercambistas, cujo número crescerá. A grande maioria dos textos e livros utilizados em aula estarão em formato eletrônico, desaparecendo as pastas para xerox. A quantidade de matérias obrigatórias diminuirá, e as matérias eletivas e domínios adicionais crescerão, formando departamentos mais plurais e flexíveis, nos quais o aluno fará uma formação quase “customizada”.
José Guilherme Vereza, diretor da agência de publicidade 11:21 e formado em 1975 na PUC, acredita que há fundamentos importantes da comunicação que devem sempre ser praticados, independentemente da época:
– As profissões do amanhã serão aquelas que o mercado suplicar e a tecnologia oferecer. Mas o talento, a criatividade, a perseverança, a reflexão e o conhecimento serão sempre exigidos, seja qual for a engenhoca que está por vir.
Vereza, quando jovem, adorava assistir ao desenho animado Os Jetsons, que retratava uma sociedade altamente tecnológica e robotizada no segundo milênio.
– Passei minha infância encantado com o way of life do desenho animado, onde carros voavam, robôs eram arrumadeiras e cachorros latiam mecanicamente. Era o suprassumo do futuro.
A jornalista e professora de História da Imprensa Carla Siqueira acredita ser impossível prever o que acontecerá em seis décadas, e que o mais importante é pensar se o mercado e a tecnologia vão ditar completamente a função da comunicação:
– Espero que o ensino se mantenha capaz de refletir sobre a função do jornalismo, do cinema e da publicidade, sobre sua responsabilidade social e sobre as novas questões éticas trazidas pelos avanços tecnológicos.
– Acredito firmemente no valor eterno da informação crítica, checada e editada. O mundo digital traz o conceito de inovação permanente. Mas, apesar de mudanças estonteantes na mídia, na forma de produzir e consumir informação, dos algoritmos comandando as massas, nada substituirá o talento, a visão humana e crítica do mundo – afirma.
O jornalista também acredita em uma forma diferente de os alunos acompanharem as aulas:
– Provavelmente nossos colegas vão assistir às aulas da praia, de casa, no carro ou no avião. Mas nada substituirá, também, a importância do encontro, das discussões, da troca de informações e do aprendizado coletivo para a formação do profissional.
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